Experiência de amor

Foi no Natal de 2006. Sempre aos finais de ano, costumo dividir o Natal e o Ano Novo entre a minha família e a família de minha esposa. Nessa época, vivia uma situação financeira muito difícil e, por causa disso, não visitava meus pais já há algum tempo, pois, como moram fora da cidade, precisava de algum dinheiro para viajar, o que consegui perto do Natal.

Além do dinheiro, havia outro problema. Minha carteira de motorista estava vencida e eu não tinha dinheiro para renová-la. Mas minha vontade de vê-los era tanta (principalmente porque meu pai já começava a dizer que eu só os procurava quando precisava) que me aventurei a viajar nessa situação. E ainda pedi a Deus pra não me pararem na estrada, vejam só...

Consegui chegar ao meu destino (graças a Deus) sem que me parassem. O alívio era grande. Estava feliz em rever meus pais, minha avó, meu tio, meus irmãos e passarmos aquele Natal juntos. Principalmente para esquecer um pouco a realidade difícil que estava vivendo.

Porém, numa tarde, meu pai me pegou num canto e perguntou como eu estava, meu trabalho, e acabei lhe contando o que estava passando. Contei-lhe inclusive das condições que eu estava ao viajar. Foi quando ele começou a reclamar comigo, que eu não tinha que ter viajado naquela situação, que poderia ter acontecido o pior, e se já não me bastasse a frustação de estar vivendo uma situação que jamais havia sonhado viver (principalmente por achar que Deus jamais iria permitir uma coisa dessas, que minha fé e vida com Deus bastava pra eu ter sucesso profissional), de ter feito tudo o que fiz só para poder estar lá com ele e com minha mãe, ainda teria que ouvir um sermão daqueles. Comecei a discutir com meu pai, dizer-lhe que as consequências dos meus atos era problema meu e que era responsável suficiente para enfrentá-las. E quanto mais ele tentava me recriminar, mais eu respondia dizendo que o problema era meu. Minha mãe, nervosa, tentava conter os nossos ânimos, em vão.

Até que no auge da discussão, meu pai não resistiu e desabou em lágrimas, como nunca eu havia visto. Ele me disse: "Olha o que você fez", se referindo ao choro. Se sentiu exposto diante de mim. Mas foram as lágrimas de meu pai que me fizeram ver o que estava por detrás das palavras: amor. Amor de um pai que não suportava nem a ídéia de ver seu filho sendo maltratado, sofrendo consequências que poderia evitar. Não resisti e chorei, abraçado a ele. "Pai, agora eu entendi, eu entendi".

Talvez meu pai não saiba, mas este episódio marcou minha vida. De lá pra cá, minha situação chegou a piorar ainda por mais um tempo, mas graças a ajuda do meu pai, me reergui e hoje estou melhor. Mas a melhor coisa que o meu pai me deu foram aquelas lágrimas. Percebi o quanto eu era amado por ele e o quanto estava sendo egoísta, fazendo com minha própria vida coisas que não afetavam só a mim, mas a todos que me amavam também.

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